Sedentário Diário

Por Marcelo Pereira Uma escola qualquer em algum lugar do país. Zona urbana. Final do ginásio. Professora trintona e cerca de trinta alunos no começo da adolescência. A professora, de mentalidade conservadora parece feliz: - Bom, alunos, hoje vamos dar início a mais um ano letivo. Aqui ninguém pensa. Eu digo as ideias e vocês acatam, sem contestar. Quem discordar, vai de castigo para uma salinha secreta, conduzido pelo tio militar que está de plantão no corredor. Cientes? Agora vamos à aula. Para começar, a nossa querida língua portuguesa. - Professora, uma vez escutei algo tão bonitinho vindo do nordeste. Um senhor falou "brabuleta" e achei fofo. - diz alegremente uma aluna na sala. - Errado! Este senhor é erradíssimo! Ainda mais vindo do nordeste, região de burros! Todos temos que falar corretamente, como os homens de gravata, sempre corretos, falam. O único que pode escorregar na gramatica é o Carluxo. Ele é o filho do "Mito". Tem regalias. - Tá, professora - diz

Por Marcelo Pereira Um menino bem pequeno pergunta, um tanto curioso, ao pai, que lê seu jornal calmamente. - Pai, coelho bota ovo? - Não, meu filho. Porque pergunta? - Aprendi que coelho bota ovo. Ovo de chocolate. Dele nasce mais chocolate e alguns brinquedos. - Ora, filho, isso é apenas um símbolo. Uma brincadeira. - Certo, pai. Vou fazer uma omelete de chocolate e brincar com o filho do coelho. ------------------------------------- Julgamento em Jerusalém. Jesus, carregando uma pesada cruz de madeira e com uma espécie de coroa de espinhos ferindo a cabeça escuta calado e triste a sentença. - Você foi condenado, Jesus! - Fui condenado porquê? - Por ajudar os pobres e desafiar as elites. - Certo. Eu fiz isso. Isso é ruim? - Aqui, ajudar pobres é crime. Ricos tem o privilegio da ganância. Pobre o destino do abandono. - Mas pobres não são também seres humanos? - Não interessa! Aqui, o bem estar é somente para ricos!  - E por isso eu vou ser condenado? - Vai. - Tá. Me condenem. Mas eu t

Por Marcelo Pereira Um jovem de estatura média, não bonito, nem feio e de jeito pacato é abordado de forma agressiva por policiais. - Ei, você! Esteja preso! - diz um dos policiais, visivelmente nervoso. - Calma aí! O que foi que eu fiz? - diz o jovem pacato. - Você não tem mulher. Não é casado e sequer tem namorada! - Alto lá! Eu sou solitário, mas sou gente boa, altruísta, honesto e respeitador. Eu nada fiz de errado. - Só que temos ordens para prender os Celibatários Involuntários. Você parece ser um. - O quê? - Celibatário Involuntário. - Sei lá o que é isso! Mas que culpa eu tenho se está cada vez mais difícil arrumar uma mulher? Há poucas solteiras e as poucas que são não paqueram mais. As regras de conquista estão cada vez mais difíceis e as mulheres exigem quase tudo de homens como eu! - reclama o jovem. - Entendo. - Sou tímido, meu emprego paga pouco e meu porte físico deixa a desejar. Como ser sedutor nestas condições? - Não interessa, você teria que se virar. Arruma mulher c

Por Marcelo Pereira Querido Presidente Lula Estava devendo escrever uma carta a você. Sei que você recebeu muitas. Admirador de sua luta histórica e grato pela excelente gestão de seu governo, estava pensando no que escrever. Difícil encontrar palavras para dizer a alguém com tamanha grandeza e importância como você. Sinto-me triste por vê-lo no cárcere por um motivo tão injusto. Está mais do que claro que você está em sua situação porque fez muitas pessoas felizes. Quem te prendeu odeia ver pessoas felizes. Sua trajetória íntegra, que você mostrou desde o começo de sua vida até este exato momento, nos serve de exemplo e de motivo para muita reflexão. Vê-lo ser levado ao cárcere, tratado como se fosse o pior malfeitor do mundo, doeu em meu coração.  Mais revoltante ainda é saber que muita gente ainda está feliz pela injustiça cometida contra você.  Infelizmente em minha família e em meu circulo social conheço muita gente que é contra você.  E quem é contra você, Lula, e contra a felici