Pular para o conteúdo principal

Crise da meia-idade: Tá chegando! Tá chegando! Chegou!

Por Marcelo Pereira

Quem sabe calcular datas sabe muito bem que os nascidos no início da década de 70 já estão se aproximando dos 40 anos, começo da meia-idade, fase da vida em que o organismo começa a decair para se preparar para a velhice e depois para o falecimento.

Para quem está com a vida estabilizada, essa crise é apenas uma frescura, um chilique. É só usar a graninha do emprego para pagar um bom hospital que a decadência física se resolve. E quem chega á meia-idade sem nada estabilizado, como fica?

Tudo bem, eu amadureci tarde. Para falar a verdade adiei sem querer a adolescência. Não sei o exato motivo, pois eu tenho a minha mente 100% sã. Desatenção? Autismo? Vontade de perpetuar a juventude? Não sei. Só sei que quis ser criança quando todos fodiam com suas namoradas pela primeira vez. Alonguei a minha infância e hoje estou preso em uma pós-adolescência forçada. Pago o preço caro cobrado pela rígida burocracia de uma teimosa e irredutível sociedade capitalista/materialista. Como se amadurecer tarde fosse um crime hediondo e imperdoável.

Mas aí chegam uns chatos excessivamente otimistas (não há nada pior que alguém excessivamente otimista, pois parecem que eles vivem num sonho encantado. Prefiro os pessimistas) que vivem dizendo: "você tem a vida toda", "juventude é estado de espírito", "a vida começa aos 40", "essa é a melhor idade" e outras bobagens do gênero.

Para mim, idade é tempo de vida. Se você vive 40 anos, você tem 40 anos, não interessa se você parece mais velho ou mais novo. Para piorar, há uma mania machista da sociedade imbecil de achar que a mulher, por ser tratada como objeto tem prazo de validade, envelhece e o homem por não ser objeto, e sim sujeito, possui a eterna juventude. Mais bobagem. Homem e mulher envelhecem do mesmo jeito. Senão na aparência (o colágeno existente na pele dos machos adia o aparecimento das rugas), envelhecem na saúde. Quase eu tive enfarte num dia desses depois de uma enorme risada durante uma comédia. É, tô ficado velho...

Mas realmente o que caracteriza a juventude para mim, é a fartura de oportunidades. Quanto mais velho, mais as oportunidades de realização vão desaparecendo. Você percebe que ficou velho quando:

- te olham atravessado na entrevista de emprego e que agora só resta as supercomplicadas provas de concurso (isso com sua memória falhando);

- quando você observa que todas as mulheres legais já estão casadas (a maioria com maridos imbecis) e que só restam as mulheres chatas (isso quando não aparecem aquelas pirralhas interesseiras com idade para serem filhas ou netas);

- quando seus ídolos e intelectuais favoritos morrem e os que estão aí não conseguem fazer nem 10% das realizações dos que foram.

Se você percebe que tudo isso acontece em sua vida, parabéns, você envelheceu. Você pode se considerar um velho, idoso, um ancião, um matusalém. Acabou o prazo de validade.

Espero poder pelo menos passar em algum concurso, pois preciso sobreviver. A vida afetiva já era: quando a carência afetiva vier, arrumo um bicho de estimação., como todo idoso abandonado deve fazer. Ficar pagando mico em "Faculdades" da terceira idade não ajuda nada, só piora.

Por enquanto vou tentando uns bicos até passar em algum concurso. Pelo menos sou bom em informática e isso oferece uma vasta gama de serviços que posso fazer. Mas não é motivo de orgulho para ninguém, ainda mais no mundo em que tem a equivocada ideia de valorizar os homens apenas quando eles estão em profissões prestigiadas (muitos maridos imbecis das mulheres legais estão fazendo coisas medíocres nessas profissões brilhantes. E ganhando muito por esses serviços medíocres).

Por enquanto vou curtindo a minha vindoura velhice. Daqui a dois anos, se eu estiver vivo, chegarei a quarta década da minha vida. As costas vão doer, minha voz vai ficar rouca, meus cabelos vão cair, as cobranças da sociedade me deixarão ainda mais ranzinza, mas vou me arrastando até que a morte chegue.

Bom, meu tempo acabou. Já era. Que venham os próximos rapazes.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Quem é o sapo? Quem é o príncipe?

Por Marcelo Pereira Uma bela garota culta e de bom gosto vai a uma festa e encontra um homem branco, alto, atlético como os jogadores de vôlei, e com voz grossa e jeito extrovertido. - Nossa, que homem maravilhoso!!! Um verdadeiro príncipe. Quero me casar com ele! -  diz a bela garota. Os dois finalmente se casam numa linda festa. Chega a noite de núpcias e no dia seguinte, quando a garota acorda, próximo ao meio dia, nota sua cama vazia. Ao chegar na sala, depara com um um medonho sapo gigante e gordo, o mais feio de todos e muito gosmento, sentado no sofá com uma lata de cerveja vazia assistindo a um jogo de futebol na televisão e gritando, entre arrotos: - Mulé (blurp!)! Traga outra cerva (blurp!)! E rápido, sua vaca!!!   (blurp!) Enquanto isso, longe dali, um simpático sapinho, com uma bela coroa de ouro na cabeça chora em cima de uma  vitória-régia  de um brejo cercado por várias sapas gosmentas que coaxam sucessos do popularesco, irritando os ouvidos do pobre coitado. E todos viv

Bola Quadrada

Mais chato do que um jogo de futebol, onde sou obrigado a aguentar um monte de desocupados correndo pra lá e pra cá com uma bolinha e em alguns momentos ouvir muita gente berrando feito alce no cio, s o mente os programas de debate esportivo. Neste tipo de programa, personalidades igualmente desocupadas e sem ter assunto para falar ficam tentando descobrir o sexo da bola, em conversas pseudo-intelectualizadas na tentativa vã de encontrar algo que justificasse a importância do futebol para o brasileiro. Chatoooo... Aí imaginei um programa de debate esportivo onde todos os participantes, sem exceção, detestam futebol. Obrigados pela emissora a apresentar um "programa de índio" como esse, claro que não iam seguir o roteiro e romperiam com qualquer tipo de zona de conforto para ter que fugir daquilo que eles mais detestam e por isso mesmo, não entendem. Com vocês, o Bola Quadrada, o primeiro programa de debates sobre futebol, entre caras que detestam futebol. " Apresentador

Respeito às diferenças

Por Marcelo Pereira Dois amigos conversam. - Olá amigo! - Olá! - Que bom dois amigos se darem bem nos dias de hoje, sabe como é. A maioria se odeia, vive brigando por qualquer motivo. - É verdade, por uma divergenciazinha, já querem até se matar. - Mas eu fico feliz com a nossa amizade. - Eu também. Respeitamos as nossas diferenças e por isso nos damos bem. - Não somos obrigados a concordar com tudo. - Claro e para comemorar a nossa amizade respeitosa, vou convidar você para assistir ao jogo de meu time de futebol no final de semana. - Pena, mas não vou. - Não vai porque não pode? Tem algum compromisso? - Não amigo. É que eu... humm... eu não sou muito ligado em futebol. - Como é que é? Você não gosta de futebol. - É... eu não curto futebol. - Você deve estar brincando. Brasileiros gostam de futebol. Você  não é brasileiro? - Sou, mas prefiro outras coisas. Outros esportes. Tênis, surfe... - Não é possível. Um brasileiro não gostar de futebol... - Mas eu não sou obrigado a gostar de fu