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Os certos pagam pelos errados

Por Marcelo Pereira

Desde semana passada (14/02/2011) estou fazendo um curso de Técnico em Administração no Senac daqui de Niterói. Como é uma área que gosto e descobri que tenho vocação, participo bastante das aulas. Mas acho que deveria participar menos.

Ontem a turma passou por uma dinâmica de grupo. Os colegas deveriam falar dos defeitos e qualidades dos outros. Recebi muitos elogios, mas duas pessoas me consideraram "que eu me acho" (gíria para arrogante) e que "falo sem necessidade". O que foi que eu fiz?

Eu sempre achei que arrogante é aquele que faz tudo para passar a perna nos outros através de uma posição privilegiada. Nunca fui com a cara de privilegiados. Mas pelo jeito fui feito para pagar pelo erros dos outros.

Eu tenho baixa auto-estima. A principal causa disso é a dificuldade que eu tenho na vida afetiva, por uma série de fatores. Não sei o que é ser feliz no amor. Não tenho a menor noção disso. Namoro, para mim, sempre foi sinônimo de decepção.

Para piorar, há a repetição de negativa experiência de tomar conhecimento que uma mulher que estou afim seja comprometida. Falam tanto que falta homem nesse país, então de onde surgem os namorados, noivos e maridos das mulheres interessantes? Se as coisas estão ruins para as mulheres, porque nenhuma corre desesperada atrás de mim quando eu saio na rua? Isso tudo me magoa e ajuda a enterrar minha auto-estima.

Como vêem, não há motivo para mim para me tornar arrogante.

Mas como eu sou confundido como arrogante? E os Don Juans de meia tigela que pegam as mulheres que eu quero, não são arrogantes? Afinal o que é ser arrogante?

Eu não sei. Só sei que sempre fui um rapaz modesto, altruísta, simpático. Ou pelo menos em esforço para ser. Nunca causei prejuízo a alguma pessoa, nem humilhação.

Quer dizer que eu não posso participar de uma aula? Se fico calado, sou antipático, se falo sou antipático: não sei o que as pessoas querem.

Imagine como deve ser difícil conquistar alguém hoje em dia. Quando falo da minha dificuldade social, principalmente no que se diz a respeito de namoro, ninguém acredita.

Vivemos num mundo sem amor, onde as pessoas procuram alguém "divertido", "esperto" e essa esperteza deve estabelecer os limites tênues entre o simpático e antipático. Limites tão tênues que eu sinceramente custo a perceber. Esperteza nunca foi o meu forte.

Não sei o que querem de mim. Só sei que as pessoas perdem por me julgar errado e se afastar de mim. Sou um rapaz com capacidade de fazer qualquer um feliz. Mas as aparências muitas vezes distorcem os fatos.

Não sei que tipo de atitude terei a partir de agora. Devo voltar a ser o calado que sempre fui? Devo continuar falando? De qualquer forma tenho que repensar minhas atitudes, mesmo que não saiba como.

Mas acho que a sociedade deveria aproveitar e repensar seus valores. Podem estar entregando os louros às pessoas erradas: os verdadeiros arrogantes que poderão trair a sociedade quando for tarde demais.

Enquanto a justiça não é feita, os certos continuam pagando pelos errados essa cruel e injusta dívida. A lei não falou que as punições são pessoais e intransferíveis?

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NOTA: Uma nova modalidade de arrogância tem surgido recentemente, graças aos tempos politicamente corretos: assumir rótulos de exclusão, posar de vítima. Muitas pessoas visivelmente falantes se auto-rotulando de "tímidas", alcoólatras mulherengos se classificando de "nerds", puxa-sacos de empresários se considerando socialistas, esportistas que vivem chorando quando vencem, e por aí vai. 

Temos que tomar cuidado com esse tipo de arrogância, que pode não ser visível no comportamento, mas pela postura ideológica e estilo de vida, dá para perceber o contrário: um vencedor que posa de perdedor para vencer ainda mais e impedir a vitória dos atuais perdedores, para que o rol dos vencedores nunca mude. Para que os mesmos tipos continuem vencendo eternamente, se mantendo injustamente no poder e ditando as injustas e inúteis regras. 


Muita gente cai direitinho na conversa desses lobos em pele de carneiro e quando percebem, já é tarde demais.
 

Cuidado com as falsas vítimas. Eles são perigosos, embora não pareçam.

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