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A Lagarta e a Borboleta



Por Marcelo Pereira

Uma borboleta muito bonita estava voando pelo jardim quando encontra uma feiosa lagarta rastejando acomodada pelo caule de uma pequena planta.

- Bom dia, Dona Lagarta. Como estão as coisas?
- Tudo na mesma. Estou bem.
- O ano já vai começar e você o que tem de perspectiva?
- A mesma coisa desse ano. Está tudo bom.
- Mas todo mundo quer sempre uma melhora para o ano seguinte. Progredir é a meta.
- Não preciso progredir. O mundo já está progredindo.
- Não está, não. Poucas coisas avançam. Tudo depende de nossa luta. para isso temos que criar metas.
- Não preciso de metas. Está tudo bom. Computador em todos os lugares, liquidações nos shoppings, BRTs nas ruas, Brasil campeão no futebol e muitas festas e noitada pelo Brasil a fora. Posso querer mais o quê?
- Mas isso que você citou não são melhorias. É aparência, é consumismo, é espetáculo.
- Para mim são melhorias. Deixa o povo contente.
- O povo pensa que está contente.
- Não acho, borboleta metida. Você não quer a felicidade dos outros.
- Quero sim. A felicidade real. Isso que você citou não é a felicidade.
- Como não? Vejo as pessoas sorrirem.
- Muitas precisam da ilusão para escaparem de seus problemas. Como o amiguinho imaginário que alegra uma criança solitária. Mas é uma alegria postiça. Com a maturidade e as realizações reais, a necessidade de se iludir desaparece.
- Sei não. Continuo achando que essa é a verdadeira felicidade. É o que nossa população pode ter.
- É o que a nossa população pode ter? Você está sendo acomodado.
- Porque não se preocupa com seu voo, borboleta abelhuda? Cada um é feliz como quer!
- Tudo bem, você pensa assim...

E a borboleta continuou com o seu voo, olhando a vida de forma mais ampla e a lagarta continua a rastejar, aguardando a sua hora de entrar no casulo, fazer seu auto-conhecimento e renascer como uma borboleta, voando alto e enxergando o mundo de forma bem mais abrangente, não se contentando com paliativos nem se deslumbrando com espetáculos que só servem para angariar dinheiro as custas de uma população iludida e enganada. Como borboleta, a lagarta terá finalmente mudado de ideia.

Que em 2012 possamos fazer o nosso auto-conhecimento, refletindo sobre o que nós somos e sobre o que gira ao nosso redor e possamos voar alto como as borboletas, se adequando aos novos tempos que exigirão pessoas cada vez mais críticas e ativas.

Deixemos as lagartas presas nos tempos antigos. Se elas não virarem borboletas, serão sufocadas pela teimosia de seus casulos.

Evoluir sempre. Essa é a nossa meta. Não deixemos que a evolução das máquinas atrofie a nossa evolução.

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