Por Marcelo Pereira
Esta frase citada na letra de Sunday Bloody Sunday, grande clássico do U2 e que é uma das mais emocionantes músicas já gravadas, tanto em letra como em melodia, nos coloca a pensar muito sobre tudo que nos rodeia. Ela se refere a confiança cega que temos na mídia e a submissão que resulta desta confiança.
Esta frase citada na letra de Sunday Bloody Sunday, grande clássico do U2 e que é uma das mais emocionantes músicas já gravadas, tanto em letra como em melodia, nos coloca a pensar muito sobre tudo que nos rodeia. Ela se refere a confiança cega que temos na mídia e a submissão que resulta desta confiança.
Nos, os brasileiros, somos tradicionalmente submissos a mídia ou a personalidade ou instituições consagradas. Para muitos, a confiança se reside no prestígio. Quanto mais prestigiada for uma pessoa ou uma instituição, mais confiança as pessoas irão depositar nelas e mais poder de persuasão e até mesmo de proselitismo terá o detentor desse prestígio. Ou seja, prestígio da o poder de formar opiniões.
Numa sociedade que não gosta muito de pensar como a brasileira, é cômodo que esta capacidade de pensar seja entregue a esses privilegiados cujo prestígio é construído pela mídia e pelos costumes sociais (estes regulados pela mídia). Consagradas pela opinião pública através dessa mídia, pessoas e instituições ganhar poder de persuasão e tudo que é dito por elas vira verdade absoluta e inquestionável.
A TV é o principal meio de comunicação e mesmo com a internet, as emissoras de televisão, sobretudo a Rede Globo ainda representam o meio mais influente para a sociedade. Muitos pensam que a internet se tornou influente, o que fatos confirmam ser uma mentira, já que a rede de computadores até agora, só tem servido para confirmar as crenças e mitos criados e difundidos pelas televisões. A mesmice ideológica em que se encontra o país é uma prova real disso.
Mas a internet deu a oportunidade de eliminar o pensamento único. A internet, dando voz a pessoas comuns como eu e você, deu a oportunidade valiosa de mostrar ao mundo que as ideias difundidas pela mídia tradicional não eram unanimidades como quase todos pensavam. Que a realidade da TV sempre foi e é muito mais ficcional do que se imagina. A última copa, culto irresistível a uma forma de ilusão, foi uma verdadeira demonstração de que a TV sabe muito bem construir a sua ficção.
Mas a submissão da população à mídia, acontecida na última copa mostrou a verdadeira cara não apenas da população brasileira, altamente ingênua e ainda bastante irracional, como mostrou a da mídia: mentirosa, proselitista e interesseira, fazendo de tudo para que um agrande parte da coletividade concorde e defenda as opiniões pessoais dos donos dessas emissoras.
Mas não somente na copa que acontece isso. Cito a copa porque é quando essa manobra midiática encontra o seu auge e tem o maior poder de persuasão, muito mais poderoso nesta época do que em outras. Mas a mídia sempre encontra oportunidades e meios de fazer com que a população pense que o que ela difunde é verdade. Psicólogos são contratados pelas emissoras para atuarem nos bastidores, encontrando formas de persuasão que pudessem ser ao mesmo tempo discretas e implacáveis, fazendo os telespectadores pensarem que tais ideias surgiram se suas próprias mentes.
E por isso mesmo que as pessoas passam a acreditar que o que aparece na mídia é verdade, é real. Novelas, no sentido oposto do que afirmam seus roteiristas, molda a realidade, consagra hábitos e costumes. Se, por exemplo, aquele galã interpreta um personagem infiel e esse galá possui prestígio, lá vem a sociedade achar que a traição cometida é uma atitude correta. Só porque foi cometida pelo galã influente, mostrado através de uma emissora igualmente influente.
Os brasileiros não são os únicos a serem submissos pela mídia, mas são os mais submissos, chegando a construir seu repertório de convicções com base no que aparece na televisão. Brasileiros necessitam do prestígio de uma pessoa para que uma ideia possa ser aceita. Infelizmente são capazes de aceitar uma ideia absurda só por causa da confiança no prestígio de alguém que a mencionou. Convém lembrar que dos anos 90 pra cá temos celebridades cada vez mais emburrecidas, mas tão ou mais influentes que os intelectuais de outrora. A tradição mostra que é perigoso acreditar numa tolice só por causa do prestígio de seu responsável.
Na contramão, muitas verdades ditas na internet perdem força, pois quem os fala ou escreve não possui o prestígio necessário para transformá-lo em formador de opinião. Existe a lógica, o discernimento, o senso crítico, mas não o poder de persuasão. Uma besteira dita por um jogador de futebol prestigiado é muito mais aceita como verdade do que uma frase lógica dita por um "Zé Qualquer" na internet. É o famoso "sabe com quem está falando", onde o autor da frase é muito mais importante do que a própria frase dita. Imagine como seria o Brasil se o Neymar pensasse como um intelectual e divulgasse ideias com maior discernimento. O Brasil mudaria.
Por agora, enquanto o prestígio midiático/social de pessoas e instituições for mais forte que a lógica de ideias, continuaremos a pensar que o que a mídia difunde é verdade e que o que nos rodeia é ficção. Submissos ao prestigio de verdadeiros manipuladores de ideias, ainda vamos construir uma realidade paralela que representa a materialização de nossas mais infantis ilusões, enquanto a real realidade segue firme e forte com sua cara feia, com seus problemas irritantes e seus danos irreversíveis.
O sol sempre brilha nos aparelhos de televisão. Desligando-a, abriguemos com a nossa tempestade de desilusões.
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