Por Marcelo Pereira
Eu estava ouvindo um programa que só toca samba e notei que quase todos tocam no tema da religião. Por isso que nunca ouvi falar de um sambista gospel: não precisa, os sambas já servem como música gospel. Pois é Deus pra lá, Deus pra cá, Deus isso, Deus aquilo, Deus quiser, Deus não quiser, meu Deus, meu Deus, meu Deus, etc.. Deus é presença garantida em muitas letras de samba.
Imaginei a possibilidade de haver um sambista ateu, que não esteja interessado em se ajoelhar diante de um Gigante Invisível que ninguém teve a ousadia de comprovar a sua existência. O nome do sambista seria Teteuzinho (diminuitivo de ateu) do Samba.
Descontente com a miséria crônica da favela onde mora e consciente da desonestidade das igrejas que se instalam em bairros pobres para se a aproveitar da carência da população e exercer poder sobre ela, Teteuzinho declara guerra às religiões e lança seu único e exclusivo samba ateu.
Consegui uma de suas composições, que ele escreveu junto com seus amigos, também ateus, Não Louvarei, onde ele se recusa a se ajoelhar diante do Gigante Invisível Que supostamente governa o universo de forma tirânica. Vamos a letra. Conseguindo mais material de Teteuzinho, postarei aqui.
Não Louvarei
Letra: Teteuzinho do Samba
Música: Teteuzinho do Samba, Cláudio sem Alma, Apóstata da Cruz e Einstein da Conceição
Louvar
Uma perda de tempo da vida que tenho que levar
Vida que não me levará, pois tudo depende de mim
É assim
Porque
Acreditar em um Gigante Invisível metido a rei
Ajoelhar diante dele é o que nunca farei
Não louvarei
Assim
Realidade triste que tenho que aceitar
É real, mas eu posso apalpar
E nela acreditar
Consciência tranquila do mundo real
Acreditar naquilo que está diante de mim
Construir minha vida de modo natural
Desprezar ilusões, é bom que seja assim
Esqueçam a invisibilidade do sonho surreal
A saudável loucura de uma coletividade iludida
Prefiro a lucidez de um mundo real
Vida concreta, real, és mais querida
Louvar
Uma perda de tempo da vida que tenho que levar
Recusar a ela é o que tenho que fazer
para continuar a viver
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