Por Marcelo Pereira
Um enorme deserto se estende diante de nossos olhos. Poucas pessoas habitam. Um lugar que em outros tempos era um grande país se tornou um imenso território silencioso e sem estrutura. O clima é árido. Os poucos habitantes conversam:
- Que burrada nós fizemos.
- Qual burrada?
- Destruímos um país inteiro, em nome do patriotismo em que acreditávamos. Em nome da moralidade, dos bons costumes e do combate à corrupção arrasamos tudo.
- É verdade. Era um país próspero. Mas a TV e o jornais nos enganaram dizendo que era o que tinha que ser feito para prosperar o país.
- O desemprego grou miséria e violência. Multidões imensas morreram ou por doenças, ou por assassinatos, ou por fome e frio. Sem dinheiro, comida e casa, não houve quem sobrevivesse.
- Achávamos que aconteceria o oposto.
- É. Principalmente agora que descobrimos, tarde demais, que o que chamávamos de "vilão" era o verdadeiro herói que salvaria o país.
- Verdade. Não gostávamos dele porque ele era pobre, nordestino, feio e sem diploma. Mas somente ele tinha as qualidades necessárias para impedir esta desgraça. Mas acabamos com ele.
- Pois é. Enfim, a desgraça aconteceu. Estamos diante de um imenso deserto. Os bens e riquezas naturais do país foram todos saqueados. Hoje estão nas mãos dos estrangeiros.
- Fomos idiotas em acreditar na TV e nos jornais. Pensávamos que estes estavam do nosso lado. Não estavam. Estavam do lado dos saqueadores.
- Isso. Agora estamos aqui neste deserto matando bichos para sobreviver e dormindo em cavernas. Tal e qual era na Idade das Pedras.
- Sim, em nome da moral destruímos um país, vestidos com a camiseta de um time de futebol, acreditando ser este o símbolo máximo de nossa nação.
- O futebol segue bem, porque os jogadores não vivem neste imenso deserto. Apesar de forjarem patriotismo, sabem muito bem como terminou o nosso país. Jogadores são burros nas não tolos.
- Verdade. Quem mandou superestimar uma forma de lazer? Trocar assuntos sérios por uma brincadeira!
- Resultado: estamos aqui neste deserto inabitável. Vivendo como os trogloditas dos primórdios da humanidade. Enquanto existirem bichos para matarmos e transformá-los em comida, sobreviveremos.
- Mas acho que não demorará muito para que não existam mais bichos. Daqui a pouco tempo, sumiremos deste inabitável deserto. As nossas vidas estão por um fio.
- Verdade. Enquanto isso, me passe mais um osso desta capivara assada nesta fogueira improvisada. Estou com sono e daqui a pouco vou para a minha caverna descansar.
- Certo. Amanhã continuaremos mais uma caça neste deserto. Sorte que o território é imenso e ainda temos bichos para comer...
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