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Fim de mundo

Por Marcelo Pereira

Dia 22 de Dezembro de 2012. Acordo de repente no meio de escombros. De início, não entendi o que aconteceu. A medida que retomo os sentidos, vou entendendo aos poucos. A profecia do Povo Maia foi cumprida.

Não foi o mundo que acabou. O planeta continua de pé. A humanidade é que em sua maioria, foi aniquilada. Estou aqui somente, eu, algumas baratas e aquele ser estranho conhecido como "Urso d'água", um bicho esquisito com corpo peludo, porte de urso em dimensão microscopia, só que com três pares de membro feito inseto e uma "câmera" no lugar da cabeça. Esta aberração recém descoberta é considerada o ser mais resistente do mundo. Por isso está aqui.

Vejo ruínas ao meu redor. Não que eu fosse o único ser humano que tenha sobrevivido. mas na minha cidade sim. Não sei dizer porque fui poupado da morte. Talvez eu seja útil para a reconstrução do mundo, sei lá. Talvez seja punido por viver em um lugar tão sem infra-estrutura. 

Ando ao redor e vejo ruínas e mais ruínas. Nem sei como dormi nesta noite, sem abrigo. Não choveu. Há muitos corpos em rápida decomposição por aqui. Muitos de conhecidos meus, amigos, parentes...

Percebi que não foi um meteoro que acabou com as pessoas. Nem mesmo a aproximação do sol, embora perceba que uma radiação forte matou quase toda a humanidade. Que radiação foi esta que matou quase todo mundo e não me matou?

Percebi um cheiro de fio elétrico queimado, como se tivesse ocorrido um curto-circuito. Comecei a suspeitar que tenha acontecido um gigantesco curto que atingiu todo o planeta. Mas o quê - ou quem - pode ter causado um curto com estas dimensões?

Me lembrei que o medo é uma excelente forma de manipulação. Medrosos são mais obedientes, acatam a vontade de seus superiores sob as promessas de se livrarem dos motivos que levam ao medo. 

Na noite anterior, soube que jornais estavam tendo um recorde de vendagem. Telejornais e rádiojornais nunca tiveram uma audiência tão alta. Creio que os empresários da mídia, o tão falado quarto poder, tenham decido cumprir as profecias com as próprias mãos, na intenção de fortalecerem ainda mais o seu poder.

Mas algo deu errado. Nem os empresários sobreviveram. Não se sabe se morreram por descuido ou se estava nos planos deles se matarem após aniquilarem quase toda a humanidade, como terroristas suicidas. Não se sabe. A falta de informação virou a lei no dia de hoje.

Estou eu aqui sozinho. Creio que em outros lugares tenham sobrevivido mais gente. Foram atingidos apenas os que se situaram atentamente diante das TVs, rádios e aparelhos. Eu estava lendo um livro na ocasião. Um livro sobre fatos históricos do passado.

O desespero em tentar saber informações sobre o fim do mundo atraiu muita gente para a TV, que como uma ratoeira, estava na verdade atraindo todos para uma cilada, que pelo jeito, ocorreu pior do que o planejado. Deu no que deu. 

Não se sabe o que acontecerá daqui em diante. Ando léguas e não  vejo nenhum ser humano além de mim nesta grande parte do território. Talvez exista outras pessoas, em lugares bem longe daqui. O que importa é que sou o único aqui. Salvo graças um único livro de História.

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