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O poder da palavra "Não"

Por Marcelo Pereira

Místicos e neurolinguistas (que na verdade são um tipo de místicos) detestam a palavra não. São capazes de escrever livros sem usar a tal palavra. Otimistas, acreditam que o não (olha eu usando a palavra!) uso dessa palavra atrai energia positiva. Bobagem. palavras não geram energias.

Na verdade o não nos educa bastante. Ouvir "não" pode até ser desagradável mas não mata. Gera alguns danos, verdade, mas é a palavra que mais ouvimos na vida.

Eu mesmo ouvi muito mais "nãos" do que "sims". Já ouvi inclusive "Sims" negativos, que matematicamente falando, são na verdade "nãos" ditos de outra forma. O que é um "sim" negativo?

Sabe quando você se dá bem naquilo que não se quer se dar bem? A conquista de uma garota que a gente não gosta, um emprego que nada tem ver com nossa capacidade, um prêmio inútil, são alguns exemplos de "Sims" negativos. É aquele sim que você não queria ouvir, preferindo neste caso um "não". Matematicamente, como eu disse, significa "não" por lembrança daquela regra que diz que um sinal negativo antes de uma conta, inverte a sua operação. É menos levado por mais.

Não, essa palavra tão íntima...

Nossa sociedade adora dizer não. E diz o tempo todo. Quase não diz sim. Para dizer "sim", exige algo. E não adianta negarmos essa exigência. O "sim" diante das exigências mais estapafúrdias é a possibilidade, mas não a garantia da aquisição de certos benefícios. benefícios que essa sociedade teria o maior prazer de negar, se não fosse essa troca, por mais injusta que seja. Em muitos casos te pagam apenas um centavo pela sua Ferrari. Te pagam bem pouco, quase nada. Mas você não pode dar a eles menos que uma Ferrari.

Dá para perceber porque o "não" é uma palavra bem conhecida de todos nós. Uma palavra íntima. Já o "sim", de aparição tão rara, nos torna um estranho tão inesperado, que quando ele aparece, muitas vezes nem acreditamos, ficamos nervosos. O que será que esse grande desconhecido fará conosco? Muitos acabam dizendo "não" ao sim (as mulheres adoram fazer isso), jogando fora excelentes oportunidades.

O "não" educa. Pois previne "nãos" bem piores

O não educa. Educa mesmo. As limitações que vem carregadas em sua semântica muitas vezes nos privam do orgulho, do egoísmo e de todos os erros resultantes ou não destes. Muitas vezes um "não" previne um outro "não" ainda mais danoso.

Dizer "não" a alguém é bom, porque fere o orgulho. Já repararam que as pessoas mais arrogantes, teimosas e egoístas passaram a vida inteira só ouvindo "sim"? Estão tão acostumadas com esta palavra que quando encontram em seu caminho uma pessoa que lhes diga "não", entram em violenta cólera, algumas com vontade de tirar a vida de quem lhes pronunciou a incômoda palavra.

Por isso, um conselho a todos os país. Sempre digam o "não". Não façam sempre a vontade de seus filhos. Eles muitas vezes nem sabem direito o que querem. Dizer "não" irá prepará-los para um mundo que irá dizer muitos "nãos" em sua trajetória. Preparar o filho para essa palavra tão pronunciada é uma medida que prevenirá grandes transtornos.

Brasileiros, esse povo estranho que só entende o "sim" e só sabe falar o "não" 


Os brasileiros são um povo que adora ilusão. E o que são as ilusões senão uma espécie de "sim" artificial e fictício, colocado pelas pessoas para fugirem do "não"?

Os brasileiros são um povo estranho que adora dizer "não" aos outros, mas só quer ouvir essa palavra linda conhecida como "sim". Fazem de tudo para não ouvirem "não", embora digam essa palavra aos outros o tempo todo.

Muito provável que o povo brasileiro aja assim porque ainda não ouviu o "Grande Não", uma decepção de níveis homéricos, já ouvida por muitas das nações que acabaram se desenvolvendo.

E olha que ainda poderemos ouvir o "Grande Sim" na forma da conquista do hexacampeonato futebolista em nosso território. Um imenso "sim" que não traz benefícios, não evolui ninguém , mas traz aquele conforto paliativo desejado por quem quer fugir da palavra "não", mas que pode mergulhar toda a nação numa lisérgica letargia que certamente impedirá o desenvolvimento social. E, para acrescentar, como falei antes, o "sim" não educa.

E mergulhado em falsos "sims", a sociedade brasileira vai se acreditando próspera até que venha o inesperado "Grande Não" devolver a população à realidade, educando-a de uma vez por todas.

Fiquem felizes. O "não" pode ser incômodo. Mas não mata ninguém.

Por Marcelo Pereira, Niterói, 20 de Setembro de 2012

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