Por Marcelo Pereira
Otávio era um brasileiro típico. Fanático doente por futebol, não trocava seu esporte favorito por nada neste mundo. Advogado formado, interessado em se tornar juiz e melhorar de vida, ganhou uma bolsa para um curso no exterior que iria lhe dar a qualificação necessária para prestar um concurso para se tornar um juiz.
Otávio era um brasileiro típico. Fanático doente por futebol, não trocava seu esporte favorito por nada neste mundo. Advogado formado, interessado em se tornar juiz e melhorar de vida, ganhou uma bolsa para um curso no exterior que iria lhe dar a qualificação necessária para prestar um concurso para se tornar um juiz.
O curso era em um país bem distante cujo nome não consigo me lembrar. Só que para a infelicidade de Otávio, todos no país desprezavam o futebol, esporte desconhecido no país que o acolheu. Surpreso, Otávio tentou de todas as formas converter a população à "religião da bola", sempre sem sucesso.
Criou um blogue sobre futebol, em idioma local, que era solenemente ignorado pela população. Seus colegas de curso riam do fato dele dar uma séria importância a uma simples entrada de uma bola em uma rede. Otávio pendurava símbolos de seu time e da "seleção" nos lugares por onde ficava. Apesar de heterossexual (e casado, deixando família no Brasil), chegou a colocar uma foto do Neymar de sunga na parede do quarto, só como uma lembrança desesperada de sua paixão pelo futebol.
Nada adiantou. Otávio se sentia sozinho. Ele, que nunca entendeu opiniões diferentes das suas, que nunca entendeu o fato de alguém não gostar de futebol, sentiu na pele o que é ir contra a correnteza. O futebol, que tanto facilitou a vida social no Brasil, lhe dando inclusive emprego e esposa, agora lhe afastava das pessoas, tirando a sua vontade de estudar.
Abandonou o curso, pois não conseguia estudar com tanta depressão. Voltou ao Brasil. Continuou advogado e amando o futebol. Mas começou a entender que era apenas diversão e nunca a "razão de ser" do brasileiro, algo que tanto defendia. Passou a respeitar e até a defender o direito de alguém não curtir o futebol. Descobriu amigos legais que não curtiam o esporte, embora tivessem muitas afinidades com Otávio em outros assuntos. Ampliou amizades e foi promovido, ainda como advogado, mas com melhor salário. Os contatos fora do futebol aumentaram as oportunidades.
Não virou juiz e continuou gostando de futebol. Mas descobriu fora de seu esporte favorito um mundo vasto e amplo, cheio de novas descobertas que o fizeram subir na vida, não somente profissionalmente, mas intelectualmente e emocionalmente.
Hoje Otávio tem mais amigos. Otávio é um homem feliz.
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